Parecer humilde, ainda que não seja uma tradução da realidade, é condição indispensável para se ter sucesso no Brasil.
Não existe exemplo melhor do que o Senna.
Filho da alta classe de São Paulo e bem sucedido profissionalmente, mesmo com toda sua fortuna e vida de luxo, suas lanchas e sua vida nas revistas, tinha um discurso público simples e humilde.
Alternava frases de auto ajuda com mensagens falando de Deus. Não incomodava os mais sensíveis.
Alguém tem algum conhecido que realmente não goste do Senna?
Piquet ganhou os mesmos três títulos mundiais, antes mesmo que Senna, também levou o nome do Brasil pra fora, mas tem uma rejeição lá no alto por conta de sua postura nada singela.
Puxando o assunto pro nosso lado, quantos comentários você já não leu dizendo que “tal cantor merece o sucesso, esse é humilde”?
Veja o tamanho da repercussão de um Gusttavo Lima pegando milho na estrada ou comprando seu próprio CD pirata. Ou de um Leonardo comendo no boteco mais simples de uma cidade do interior. Mesmo que eles entrem logo depois em um avião particular, passam a mensagem de que são gente como a gente.
Isso, de alguma maneira, nos conforta.
Temos um sério problema em aceitar alguém mais bem sucedido que nós. Se esse alguém esfrega esse sucesso na nossa cara, então, é um Deus nos acuda.
Neymar entra aí. Aqui da Rússia, olhandos os torcedores que estão seguindo a seleção, as críticas ao Neymar são meramente profissionais. É o passe errado, o drible que não deu certo ou o posicionamento em campo.
Olhando para o Brasil, pelo que leio, a análise de comportamento feita por uma sociedade especializada em vida alheia é assustadora.
É a namorada, é o pai, são os “parças”. Tudo é problema na visão de uma massa provavelmente muito bem resolvida dentro de casa.
As redes sociais não perdoam o jatinho, as mansões, o vidão, os amigos e o comportamento festeiro.
É moda chamá-lo de mimado, como se, tendo sido comprado por quase um bilhão de reais, o rapaz precisasse se comportar como São Francisco de Assis.
Neymar tem seus defeitos e ninguém discute isso, mas além de ser nosso principal jogador, ele é o exemplo principal de como nos tornamos (ou sempre fomos?) uma sociedade amarga, frustrada, mal resolvida.
Se ele fosse adepto do coitadismo, seria quase unânime. Ou se mudasse de postura e controlasse a vaidade, como muito se recomenda, ganharia mais apoiadores.
Torço, no entanto, pra que ele não mude e o Brasil seja campeão. Me causa bastante incômodo o desejo de querer que os outros se encaixem nas nossas formas, antendam aos nossos ideais de “homens de bem”.
Há quem esteja torcendo contra a seleção por conta do comportamento do Neymar, e acho isso o fim da picada.
Tom Jobim, em frase tão citada, disse que “sucesso no Brasil é ofensa pessoal”. Mal imaginava ele a que nível chegaríamos.
Sigo torcendo e acreditando que o Brasil possa ganhar a Copa. De resto, é só derrota.