A matéria abaixo faz parte da primeira edição da revista “Universo Sertanejo”, que teve sua primeira edição lançada na semana passada. O conteúdo completo dela pode ser conferido AQUI.
Um dos textos é sobre Augusto Cabrera, produtor uruguaio que hoje produz e compõe para nomes como Eduardo Costa, Leonardo e Zé Felipe.
Dono de um home studio em Atibaia, interior de São Paulo, ele está inaugurando um estúdio grande na capital, por conta da demanda por seu trabalho.
Cabrera é responsável por um sucesso recente: o lançamento “Loka”, de Simone e Simária ao lado de Anitta.
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AUGUSTO CABRERA
Em meio a uma série de produtores musicais que ascenderam nos últimos anos, há uma figura de sotaque carregado, que vive na calmaria de Atibaia, no interior de São Paulo, e que invariavelmente assina algum sucesso como compositor.
Augusto Cabrera Noble nasceu no Uruguai em 1980. A mãe é de família alemã, o pai, de família espanhola. Começou com música clássica, ainda criança, e foi se rendendo ao gosto do pai pela música latina e à paixão do avô pelo tango.
Ganhou espaço por suas parcerias com Eduardo Costa, Leonardo e Zé Felipe. Atualmente, trabalha em “Loka”, parceria de Simone e Simaria com Anitta, aposta para o carnaval.
Em 2017, inaugura seu novo estúdio, agora na capital, no Jardim Anália Franco, onde foram feitas as fotos da matéria.
Quando o conheci, dois anos atrás, ouvi que um de seus principais objetivos era unir artistas latinos e brasileiros, com o intuito de que o intercâmbio entre os países vizi- nhos ficasse um pouco mais viável.
Um dos primeiros passos dados por ele com esse intuito será a produção de uma parceria do Leonardo com o porto-riquenho Romeo Santos, ainda a ser confirmada.
Conversei com Cabrera, uruguaio da capital Montevidéu, sobre uma série de assuntos, com grande interesse em entender se, algum dia, um sertanejo conseguirá construir uma carreira sólida na América Latina, ou influenciar artistas gringos da mesma forma que eles influenciaram, historicamente, a música sertaneja.
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No Uruguai
“Eu comecei na música com seis anos, meu primeiro estudo foi de piano clássico. A família da minha mãe é de origem alemã, então era de praxe estudar música clássica. Fiz parte do coral da igreja e cheguei a ser diretor do coral e depois da parte musical da igreja.
Em paralelo a isso, eu acompanhava muito os gostos da família do meu pai. Eles mexiam e mexem ainda com bachata, cumbia, reggaeton e plena, sem contar o tango, que meu avô gostava muito. Eu tinha a influência super séria do alemão e essa musicalidade mais latina da família espanhola.
Com 17 anos, eu montei uma banda que tocava coisas no estilo Maná, Juanes, Shakira, mas era gospel. O nome da banda era “Abner”. Nós tocamos e viajamos muito, e numa dessas viagens eu conheci o Brasil.”
No Brasil
“Além de sempre ter trabalhado como músico, eu sou engenheiro eletrônico e vim ao Brasil uma vez visitar a Expomusic. Eu trouxe uma guitarra minha e apresentei na Giannini. A empresa se interessou pelo meu trabalho e me fez um convite pra trabalhar com eles no Brasil, por isso vim parar aqui.
Eu cheguei em 2004 e conheci o Tom Gomes (empresário). Ele fazia parte do comitê do Grammy Latino, e isso era naturalmente interessante pra mim. O Tom Gomes foi me apresentando algumas pessoas e, por causa dele, eu conheci o Zezé di Camargo um dia no Mosh (estúdio).
Eu ainda tava me adaptando ao Brasil, não sabia quem era o Zezé. Eu fui apresentado a ele e ele me pediu algumas músicas pra um disco que ele tava começando a gravar. Eu mostrei “Eres todos los extremos” (Lucas Robles/Cabrera). A música entrou, em espanhol mesmo, no CD “Double Face”, que ganhou o Grammy Latino. Essa música foi muito importante e o Zezé foi uma espécie de padrinho pra mim.
Através do Zezé eu comecei a conhecer pessoas e, em questão de três anos, já tava muito bem colocado. Vieram o Leonardo, Eduardo Costa, Zé Felipe, Simone e Simaria e KLB. Tudo por indicação dos artistas, não sou muito de fazer marketing.
Quando eu comecei a trabalhar com essa turma, mesmo eu não produzindo o disco todo, as minhas músicas acabaram tendo destaque, e isso foi ficando positivo pra mim.
Durante um bom tempo meu negócio foi fazer só single, aquela música que vai ser trabalhada na rádio. Há pouco tempo, entrei de cabeça nas produções completas de CD e DVD, por isso construí esse estúdio novo aqui em São Paulo.
O estúdio em Atibaia continua, é uma espécie de home studio onde eu faço as pré-produções. Alguns artistas até preferem gravar nele por conta da vibe, por ser no alto da montanha, por ser mais tranquilo.”
O trabalho
“Conversando com profissionais do nosso mercado, muita gente dizia “você precisa trazer suas influências pra cá, trazer seu método de trabalho pra cá”. Eu sempre estudei muito, tudo que eu toco ou produzo é fonte de muito estudo, e algumas pessoas achavam isso muito diferente do que se fazia por aqui.
Ouvi muita besteira de algumas pessoas “entendidas”, que diziam “larga mão de bachata, de reggaeton, isso não pega no Brasil”. Gente importante do mercado que falava isso na minha cara. Hoje, a música latina tá mais inserida do que nunca no sertanejo, todo mundo fala de bachata e reggaeton, e por causa desse interesse muita gente acabou me procurando.
Eu consigo fazer o sertanejo igual o pessoal faz, mas os artistas me procuram justamente pra fazer algo diferente, que seja mais minha cara.
Não gosto dessa coisa de receita de bolo. Tenho mais trabalho por isso, mas defendo que cada artista tem seu som, seu timbre, seu microfone, sua pegada.
Não adianta você pegar um menino que é uma fofura e colocar pra cantar coisa de balada, bebida, sei lá o quê. Eu gosto de entender o que eu faço, entender o que fez alguém se tornar sucesso, e aí sim decidir que tipo de trabalho fazer com um artista.
Eu sigo fazendo produções pra fora. Fiz recentemente Juan Campodónico, da banda Barrojondo, muito premiada, mas me agrada muito a ideia de trabalhar para que os sucessos brasileiros lá fora não sejam só questão de sorte, com canções que tocam muito por uma época e depois o artista some.
Hoje consigo mexer com artistas fortes aqui e fortes lá. Agora meu foco pra esse ano é usar a força que eu tenho pra juntar os artistas.
No DVD do Zé Felipe já estamos conversando com a Macy Gray e o Maluma. Com o Leonardo, estou pensando num CD só com versões latinas. Nem todo mundo sabe, mas há uma infinidade de sucessos aqui que são versões.
A música latina tem muitos laços com a música sertaneja, há uma ligação muito grande, mesmo. Trabalho para enriquecer e fortalecer esses laços.”
POR ANDRÉ PIUNTI