Era 31 de julho do ano passado, em Vinhedo/SP, num camarim do Henrique e Juliano. Perguntei ao Henrique:
“E a Marília? Vocês vão lançar mesmo?”
Entusiasmado, ele disse que sim, e eu comentei:
“É que o pessoal tem comentado que vocês estão mais interessados nas composições dela do que em propriamente lançá-la como cantora…”
Ele não gostou do que ouviu, é claro. O papo começava a circular pelo fato de muitos sucessos da dupla terem vindo das mãos dela, sem que ela conseguisse aparecer até então.
Duas semanas depois, chegou um email dele. Nele, um vídeo da primeira apresentação da carreira da Marília, em Itaituba, no Pará, dia 8 de agosto de 2015. No corpo do email, os escritos: “Lembrei que você tinha me perguntado se a gente ia trabalhar ela…tá aí mano!! Abração, fica com Deus, e mostra pra quem achou que a gente queria ela pra pegar música. Deus te abençoe.”
Lembrei desse email sábado (8), na gravação do novo DVD dela, em Manaus, quando a dupla subiu no palco e a Marília fez uma série de agradecimentos aos irmãos, seguida de palavras de carinho ditas tanto pelo Henrique quanto pelo Juliano.
Em agosto de 2015 nascia, para o público em geral, um novo fenômeno, sem exagero na utilização da palavra.
Como já escrevi algumas vezes aqui, de tempos em tempos surgem compositores com sensibilidade superior a média. Não é só talento ou só muito trabalho. É algo que nasce com poucos e que a gente não sabe explicar.
O sucesso da Marília não é bom só pra ela e seus pares. Ela é mais um daqueles artistas que surgem muito esporadicamente pra colocar as coisas em seus devidos lugares.
Escrevi inúmeras vezes aqui contra a elitização da música popular (da sertaneja, mais especificamente), defendendo que só conseguimos tamanha popularidade hoje por ter sabido dialogar com as classes mais distintas. Nos tempos de “lounges”, “backstages” e “áreas vips” (lembrando que diversos eventos apagaram a palavra “pista” do vocabulário), seria ótimo que aparecesse alguém que lembrasse de onde saímos.
Marília é anti-tudo. É anti-modinha, anti-fitness, anti-alimentação saudável, anti-media training, anti-letras rebuscadas e anti-querer parecer o que não é. É anti-pose. O perfil da menina de 21 anos que não liga de ser fotografada com uma garrafa de bebida alcóolica na mão pode não ser educativo, mas é sincero. Em uma época em que é comum criar e trabalhar uma imagem pra sair bem nas redes sociais, ela atropelou todo o mercado sendo transparente.
Sábado foi a gravação de seu segundo DVD, o primeiro grandioso. Estava lotado, esgotado, em um local distante das capitais mais bombadas do sertanejo. Ela fez um repertório inédito, mas como divulgou algumas canções no YouTube, o público conseguiu acompanhar em diversos momentos.
Há quem aponte que ela canta muito sofrimento (parem de falar “sofrência”, por favor!), mas um disco é muito pouco pra carimbar um rótulo assim (e se ouvir direito, vai ver que isso não se sustenta).
O grande ano da Marília é 2017, pois 2016 ficou curto pra ela ficar conhecida nacionalmente. Não deu tempo ainda.
Em 28 de setembro do ano passado, tive a oportunidade de indicá-la e participar com ela do “Encontro”, da Fátima, e lá ela fez o primeiro programa nacional de TV da carreira. Foi no tempo certo. Se você contar quantos programas ela conseguiu fazer depois disso, talvez nem precise usar as duas mãos. Não tem data.
Ela tem o dom da composição e nasceu com carisma. Fala a língua de pessoas das idades mais diferentes possíveis. Sem medo de errar, estamos vendo nascer alguém que vai fazer história.
Foto: Maurício Antônio