O dia é delas. O ano, também.
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O dia é delas. O ano, também.
O dia é delas. O ano, também.

Mesmo que estejamos apenas em março, já é claro que 2016 vai ser o ano marcado pela ascensão das mulheres na música sertaneja.

Mais do que uma simples torcida para que esse filão vingue, há números, nomes e músicas na boca do povo, algo que nunca houve dentro de um movimento, e sim, somente em casos isolados, como a Paula Fernandes, por exemplo.

Há, também, uma particularidade interessante: como o mercado sertanejo sempre ofereceu todas as barreiras possíveis para um sucesso feminino, não há um número tão grande de empresários corajosos que encaram tudo sozinho, como acontece com duplas ou cantores solo. Ao que tudo indica, porém, o cenário deve mudar em breve.

Uma das figuras fundamentais para entender o momento é a Marília Mendonça. Responsável por vários sucessos principalmente de João Neto e Frederico e de Henrique e Juliano, sua trajetória lembra um pouco a da Roberta Miranda, que de tanto compor sucessos para os outros, acabou virando sucesso como intérprete (a diferença entre elas, no caso, é que ninguém queria que a Roberta cantasse).

No pensamento machista tão impregnado na nossa cultura, se Paula Fernandes apareceu cantando o que as mulheres devem cantar (poesias, músicas românticas e apaixonadas), com sua interpretação serena e sempre preocupada com a imagem, Marília apareceu fazendo tudo o que uma mulher não deve fazer: música de bêbado, música de mulher traída, e não dando a mínima se alguém está achando isso bonito ou não.

Como as mulheres, no geral, e principalmente as meninas na faixa etária dela, cada vez mais se lixam menos para a opinião dos homens, ela fala diretamente com um público só cresce.

É preciso se atentar também a questão da imagem. Parece cada mais mais nítido que o padrão Ivete/Claudia Leitte não funciona mesmo no sertanejo. Por mais que ele nunca tenha funcionado, boa parte das cantoras que apareciam tentavam seguir essa linha “musa”, que nunca chegou perto de vingar.

Comenta-se muito que a postura do público feminino mudou porque a postura em cima do palco mudou. É uma opinião que só ouvi de homens, logo, há uma grande chance de soar machista, mas é uma ideia da qual muitos compartilham: quando, em vez de a cantora que está preocupada em virar musa maravilhosa admirada por todos, quem está lá no palco é alguém que fala de igual pra igual, que bebe e sofre como você, que fala as besteiras que você fala no seu dia-a-dia, o gelo se quebra e a aceitação passa a existir.

Junto a Marília, vêm Maiara e Maraísa, que em meio a um repertório rico no DVD mais recente, emplacaram com muita força a canção “10%”, que trata de uma mulher sofrendo e enchendo a cara na mesa de um bar, embora a linha delas não seja exatamente essa.

Cantando juntas em festivais há mais de vinte anos, as gêmeas já escreveram de tudo e já compuseram para uma infinidade de artistas. O reconhecimento só começa a vir agora, e ao que parece, está vindo em alta velocidade.

Marília, Maiara e Maraísa, ambas do escritório “Workshow”, possuem um projeto juntas chamado “Festa das Patroas”, mais uma forma de explorar essa abertura.

Já postei esse vídeo aqui das três cantando juntas a música “Motel”. O vídeo, que faz parte do DVD de MeM, é um bom resumo do que foi dito acima.

Mas e aí, aonde vamos?

Além dos dois nomes citados acima, a boa aceitação que a dupla Simone e Simaria, ou “As Coleguinhas”, está tendo fora do Norte e Nordeste, também ajuda a entender a mudança no gosto do público. Embora não formem uma dupla sertaneja de origem, o repertório se aproxima por diversas vezes, o que reforça a ideia de que há gente disposta a ouvir algo diferente.

Recentemente, postei aqui uma canção chamada “Tô grávida”, de uma dupla recém-formada chamada Lola e Vitória, que vão fazer o primeiro show da carreira dia 18, em Campo Grande.

Autoras de algumas canções das “Coleguinhas”, as meninas estão sendo conduzidas por Ivan Miyazato e Marco Aurélio, figuras mais do que conhecidas do meio sertanejo. Se dois anos atrás não haveria muito interesse nelas, hoje a corrida é pra apresentá-las logo ao mercado.

Continuando em Campo Grande, dentro do escritório da dupla Munhoz e Mariano, há Paula Mattos, compositora de mão cheia que também decidiu assumir os microfones. Com letras mais românticas do que sofridas, ela vem buscando o espaço dela com um caminho diferente das outras citadas por aqui. Nessa busca da imprensa para entender a ascensão das cantoras, Paula já anda frequentando programas de TV.

Também com gente grande por trás, em breve será lançada Rafaela Miranda, aposta da Audiomix, que já vem fazendo participações nos shows de Jorge e Mateus. Autora do seu próprio repertório, parece que também passou várias vezes na fila do talento para a composição.

Não vai ser devagar. Com toda a estrutura do escritório, já vai chegar disputando espaço. Os que conhecem seu repertório, têm como aposta uma canção chamada “Luz apagada”, que pode ser conferida abaixo.

No final do ano passado, eu participei de um “Encontro” que tratava justamente desse movimento de mulheres dentro do sertanejo. Além da Marília Mendonça, estavam presentes a Bruna Viola, mais na linha de música tradicional e que conta com um apoio de uma gravadora (Universal Music), e a Tuta Guedes, dessas todas, a única que tenta disputar mercado tendo um escritório independente, com investimento próprio, e que já está com música na novela das seis.

Há tantos outros exemplos que podem ser citados, como a Nayara Azevedo, que já apareceu por aqui no blog, Camilla Castro, Mônica Guedes, Marília Dutra, Lucyana, gente que está aí na luta e que, naturalmente, ganha novo fôlego com a realidade atual.

O público deu ok para um novo caminho e os empresários resolveram apostar. Nenhum dos nomes ainda pode ser chamado de “nacional”, mas caminham em 2016 de maneira bem mais rápida que artistas masculinos de tamanho semelhante.

No ano em que o estouro da nova geração completa dez anos, há indícios de que ainda há muita lenha para queimar. Depois de tantas barreiras quebradas na última década, uma das mais difíceis, a que impedia o protagonismo das mulheres, está finalmente caindo.