BASTIDORES: Entrevista com Charles Bonissoni
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BASTIDORES: Entrevista com Charles Bonissoni
BASTIDORES: Entrevista com Charles Bonissoni

Charles Bonissoni, 34 anos, paranaense de Palotina.

Radicado em Curitiba, é sócio-fundador e diretor de expansão e novos negócios da Wood’s, casa noturna sertaneja voltada ao público AB. Atualmente, é a maior rede de casas noturnas do país: 7 abertas, 2 com inauguração até o meio do ano, 2 em fase de construção e 3 em processo de negociação.

Filho de uma família bem sucedida no ramo de maquinário agrícola, Charles cursou administração de empresas, mas não concluiu. Passou por 7 instituições de ensino diferentes devido a seguidas mudanças de cidade, e deixou o diploma de lado.

Aos 28 anos, ao lado de amigos, decidiu criar a Wood’s (que ele chama de “o” Wood’s, por se referir ao grupo, e não somente a casa noturna), casa com capacidade em torno de mil pessoas. Oito anos depois, sua boate carrega a fama de ter sido um dos fatores que aproximou os jovens de classe alta do consumo de música sertaneja.

Mesmo quem nunca visitou a boate, pode ser que tenha alguma ideia de como seja o ambiente. É que na casa de Curitiba, em 2011, foi gravado o clipe de “Ai Se Eu Te Pego”, assistido mais de 500 milhões de vezes no YouTube (vou postar o vídeo no final do post, caso alguém tenha curiosidade em assistir com outros olhos).

Abaixo, segue a entrevista.

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BASTIDORES: Entrevista com Charles Bonissoni

Como surgiu a Wood’s?

A ideia veio há 8 anos, em Curitiba. Nós sempre gostamos de sertanejo, mas na época sertanejo era considerado “brega” e não havia lugares com boa estrutura para se frequentar na cidade. Por essa falta, então, resolvemos montar uma “boate” sertaneja que atendesse as expectativas de um público mais exigente, e assim surgiu a primeira casa sertaneja destinada ao público AB. Com atendimento diferenciado, bons banheiros, ar condicionado, camarotes, qualidade de som e luz e etc.

O sertanejo sempre foi forte, o interior do Brasil sempre consumiu esse tipo de música, mas tínhamos sim a dificuldade de atingir as capitais por uma porção de fatores. Um deles por não existir ambientes aconchegantes para curtir música sertaneja. Fomos pioneiros nesse tipo de empreendimento para sertanejo, sabíamos que se oferecêssemos qualidade, em pouco tempo nosso negócio vingaria.

Ela foi inspirada em alguma casa de fora do país?

Na verdade, a inspiração veio das estruturas de boates eletrônicas. A ideia foi a de levar tudo o que havia de melhor para o público sertanejo. Hoje tenho certeza que oferecemos estrutura e serviço com qualidade que não perde pra nenhum empreendimento fora do país.

Quantas casas há hoje?

O Wood’s está presente hoje em Curitiba, Balneário Camboriu, São Paulo, Foz do Iguaçu, Cascavel, Maringá e Guarujá. Nos próximos 45 dias, abriremos Porto Alegre e Belo Horizonte. Em construção, há uma casa em Campo Grande e outra em Cuiabá. Há mais 3 outras cidades em processo de negociação, mas ainda é sigilo.

Se as 3 se confirmarem, serão 14 casas. Não é muita coisa? Até quando vai a expansão?

Na realidade, a expansão está quase encerrada para a casa de shows. Nossa próxima etapa é um projeto de franquia para o Wood’s Pub, uma versão do Wood’s menor, pra 250 pessoas, com sertanejo acústico e petiscos, um lugar com os happy hours como target (alvo).

Você diz que talvez tenha em mãos a maior rede própria de boates do mundo. O que seria isso?

As grandes redes mundiais trabalham com franquia ou cessão de marca. Nós trabalhamos diferente, somos sócios de todas as casas, por isso digo que somos a maior rede própria. A “Pacha”, por exemplo, conhecida no mundo todo, apenas licencia a marca, não é sócia das operações e também não dão o suporte que damos para nossas casas.

É real o projeto de uma casa no exterior?

Sim, estamos caminhando com isso. Temos o sonho de levar nossa música pro mundo afora.

A tragédia na “Kiss”, em Santa Maria, mexeu bastante no mercado de boates. Como foi pra você?

O acidente serviu pra separar o joio do trigo. Infelizmente parece que é preciso acontecer alguma tragédia pra atitudes serem tomadas. Não estou julgando a casa de Santa Maria até porque não a conhecia, mas o Brasil como um todo está cheio de casas sem a mínima estrutura para atender os clientes com segurança. É de desacreditar o que se encontra por aí, casas sem saída de emergência, sem segurança, com bebida falsa, que não pagam impostos. Isso tudo detona o mercado de entretenimento, além, óbvio, de ser um perigo pra quem frequenta.

O nível de exigência tem que aumentar, e a fiscalização tem que checar todos os mercados. Nós investimos quantias gigantes nas casas pra ter a melhor estrutura possível, e é complicado concorrer com o mercado informal. Nós não tivemos queda de movimento, pois fomos citados como referência de segurança até fora do Brasil, o cliente sabe que nós estamos preocupados com sua segurança, então não deixaram de nos frequentar. Mas é claro que foi uma situação marcante pra todos.

Há casos até recentes de cantores sertanejos e duplas que se recusavam a fazer shows em boates por parecer algo “menor”, mas que hoje acabaram admitindo a importância dessas casas. Qual a vantagem pra um cantor de sucesso se apresentar em uma casa pra mil pessoas? Como funciona a negociação?

A vantagem pro artista é o de tocar pra um público formador de opinião, além da pressão que é tocar no Wood’s. Como o show é muito intimista, a relação do artista com o fã é muito direta, o artista escuta o que o fã fala pra ele na frente do palco, sente o calor do público de forma diferente de um show a céu aberto, a relação artista x fã fica muito mais exposta.

A negociação é um pouco diferente. No Wood’s toca-se pra mil pessoas, em rodeios e eventos pra até 40 mil, como no Country Festival em Curitiba. Se o artista cobrar o mesmo cache o ingresso ficaria tão caro que inviabilizaria o show, então a negociação é diferente sim.

Suas casas vivem de música sertaneja. Uma possível queda do gênero te preocupa?

Não me preocupa, não, e não acredito numa queda. O sertanejo, ao contrário de outros estilos que apareceram como o Axé, Forró, Calipso e que também tomaram conta do Brasil, não é regional. O sertanejo é a música de todo o interior do Brasil, e agora também de várias capitais. Ela é música de 60% do Brasil e é renovada a cada instante.

Outro fator que pesa muito é que a música sertaneja não é preconceituosa, ela fez o caminho contrário do Rock e MPB por exemplo, que sempre bateram muito na música sertaneja. O que o sertanejo fez? Agregou no próprio ritmo outros estilos, como rock, mpb, axé, arrocha e etc.

Ao estilo da Wood’s, muitas casas foram abertas nos últimos anos, e muitas delas duraram pouco tempo. Qual a grande dificuldade neste tipo de projeto? Qual o erro mais comum?

São várias as dificuldades. A burocracia é gigante, os investimentos são altos e o pay back (retorno) é longo. O mercado de balada mudou, se profissionalizou, se não houver profissionalização, tá fora.

O erro mais comum que eu vejo é mudar de característica com a primeira dificuldade. Muitas casas sertanejas copiaram nosso perfil e pouco tempo depois já estão tocando funk, eletrônico, etc. Quando as casas perdem a identidade, é o começo do fim.

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Ao lado de Teló na Croácia, durante a segunda turnê europeia do cantor, em 2012

Qual sua relação com a concorrência?

É difícil definir que são nossos concorrentes, pois o que oferecemos é um pouco diferente do que o mercado está acostumado. Se falarmos em casas sertanejas, a relação sempre foi boa. Admiro o pessoal do Villa Country, por exemplo, que de certa forma também foi pioneiro no sertanejo pra massa com uma qualidade maior. A concorrência leal fortalece o mercado. 

Há dois anos, sob o apelo do nome Jorge e Mateus, surgiu a boate Villa Mix, que ao menos pra quem é de fora, pareceu uma concorrente direta a Wood’s. O crescimento da marca incomoda?

Eu não vejo a casa como concorrente, o Villa Mix é pra 2000 pessoas, é outro tipo de posicionamento. A expansão da marca Villa Mix não nos incomoda, muito pelo contrário, é a força do sertanejo tomando conta do entretenimento nacional. Somos duas grandes marcas buscando seu espaço e cada uma com o seu posicionamento e público.

Você é amigo de diversos cantores, e em São Paulo, um dos sócios da casa é o Sorocaba. Não é novidade que há outros artistas interessados na sociedade. Como funciona essa aproximação?

A participação de um artista como sócio começou com o Sorocaba mesmo, pois ele já era nosso amigo e gostava da nossa marca. Como ele buscava novas oportunidades de investimento, o negócio vingou. Achamos super bacana, pois se tratava e ainda se trata de um dos maiores nomes da música no cenário nacional, e obviamente nos gera muita mídia espontânea.

Hoje vários artistas têm muita ligação conosco e gostariam de participar dos nossos projetos. O Sorocaba é sócio em São Paulo e Cascavel, que já estão funcionando. Estamos negociando sua participação nas casas que ainda vão inaugurar. Há outros sertanejos que devem participar de outros empreendimentos, mas só podemos divulgar quanto estiver tudo fechado.

O SBT Repórter, em uma edição recente, mostrou boates paulistanas que liberavam a entrada de mulheres bonitas, e barravam mulheres “fora dos padrões”. Na reportagem, a Wood’s não foi mostrada. Qual o posicionamento da casa em relação ao assunto?

Não existe isso na Wood’s de forma alguma. Fora de São Paulo, é preciso chegar cedo pra evitar as filas, mas é possível entrar. Em São Paulo, por conta do tamanho da população, nós trabalhamos com listas. Ou coloca o nome na lista antes, ou reserva um camarote ou reserva uma mesa. Quanto a ser barrado, eu digo sempre que a Wood’s é uma casa de todos.

 É verdade que já houve cliente com conta de R$20, R$30 mil reais?

O que eu posso te responder é que já houve valores que davam pra comprar um carro. Isso não quer dizer que esse cliente seja mais importante. Cada um se diverte da sua forma, e todos que estão lá pra se divertir, tirar onda, dançar, são importantes. Como eu disse antes, a Wood’s é uma casa de todos.

Como uma dupla pequena consegue tocar na casa?

Existe um processo de seleção dos artistas, que na última etapa é uma audição. Os selecionados passam a fazer parte do casting da CWB artística, que é nossa parceira responsável pela contratação dos artistas.

Quem passou por lá ainda pequeno e voltou consagrado?

Cara, acho que quase todas. João Bosco e Vinícius foram a grande marca. No começo, o Woods estava tentando se posicionar, o movimento não era intenso, e aí contratamos uma dupla pequena, que estava começando, um tal de “João Bosco e Vinícius”. Depois daquela data, nunca mais o Wood’s deixou de encher, a gente brinca que tem o AJB e DJB, antes de depois de JB&V.

Fora a gravação do “Ai Se Eu Te Pego” no Wood’s, que rendeu 500 milhões de acessos. O Michel tocou na casa logo que virou artista solo, e quando voltou, foi pra gravar o clipe que se tornaria o maior sucesso popular da música brasileira no mundo. Tudo gravado na casa de Curitiba, isso foi espetacular.

Temos uma relação muito próxima com boa parte dos sertanejos, acho que quase todos tocaram quando pequenos e voltaram quando grandes. Espero continuar ajudando e revelar novos sucessos da nossa música, fazer parte da história deles e eles da nossa.

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A série “Bastidores” já teve outros três entrevistados: Dudu Borges, produtor musical, e Arleyde Caldi, assessora de imprensa de Zezé di Camargo e Luciano há 21 anos, e Marcelo Siqueira, diretor artístico da Nativa FM. As entrevistas são publicadas no blog às segundas-feiras

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*O sistema de comentários do blog está passando por uma mudança, então praticamente todos os posts estão sem nenhum comentário. Os comentários não foram apagados, apenas não estão visíveis durante a mudança. Logo estarão de volta.