Ao meu avô.
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Ao meu avô.
Ao meu avô.

Faleceu ontem, dia 2, meu avô. O materno, o paterno não cheguei a conhecer.

Aos 81 anos, enfrentou por 7 a “doença ruim”, como ele chamava o câncer, mas conviveu com ela muito bem, controlada, até que uma recaída poucos meses atrás o debilitou a ponto de não fazer mais sentido ficar aqui. Padeceu por poucos meses, teve o sofrimento abreviado, pois não merecia encerrar de forma triste uma vida tão bem vivida.

A grande proximidade que sempre tivemos é que me faz entender tudo da melhor maneira possível.

Queria aproveitar a situação pra contar uma história.

Quando falo do meu trabalho, digo minha idade e conto que sou de Campinas, a pergunta sempre é “mas de onde veio o gosto por sertanejo?”.

A resposta é exatamente meu avô. Mineiro de Estrela do Sul, nascido na década de 1930, acompanhou o surgimento de praticamente todas as duplas importantes da música sertaneja, além de ter cantado, composto e tocado desde muito novo.

No final dos anos 1980, não consigo me lembrar a data exata, ganhei meu primeiro LP, justamente um presente dele. Nunca esqueci do disco, uma coletânea do Sérgio Reis da série “Disco de Ouro”, lançado pela RCA em 1977.

Ao meu avô.

O disco trazia clássicos sertanejos na voz do Serjão, o que me fez ouvir, ainda bem criança, repetidas vezes as canções “O Menino da Porteira”, “Saudade da Minha Terra”, e “Rio de Lágrimas”. O LP foi a porta de entrada de anos e anos ouvindo modas das mais conhecidas até aquelas que a gente tem certeza que ninguém mais conhece.

Foi o começo da minha vida musical, e sem eu nem imaginar, profissional. Se hoje vivo de música sertaneja, foi por causa do meu avô, que sempre muito curioso por modernidades, tinha o blog como página principal do seu navegador.

Como homenagem, em vez de um texto em tom triste, algo que jamais combinou com ele, preferi contar essa curta história. Sou muito do meu avô, nos gostos, no comportamento, e na forma de encarar as coisas.

Cantávamos muito a música abaixo, “Arrependida”, quando estávamos juntos. Sofrida, como não poderia deixar de ser.

A ele.