Sertanejo tradicional terá pouco espaço na Virada Cultural. "Universitário" fica de fora.
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Sertanejo tradicional terá pouco espaço na Virada Cultural. “Universitário” fica de fora.
Sertanejo tradicional terá pouco espaço na Virada Cultural. "Universitário" fica de fora.

Já reclamei outras vezes e havia decidido não tocar mais no assunto. Com a chegada do evento, comecei a ser cobrado pra emitir uma opinião, após tanta discussão gerada nas redes sociais da vida.

No próximo final de semana, em São Paulo, acontece a “Virada Cultural”.

Com uma infinidade de atrações em dois dias de evento (sábado 18 e domingo 19), sim, a música sertaneja tradicional está pouco representada. É claro que Sérgio Réis e Renato Teixeira, que se apresentarão no domingo, às 09h, no “Palco Julio Prestes”, são figuras que defendem da melhor maneira possível as tradições, mas ainda assim falta espaço. Não custa lembrar que ambos são dos poucos sertanejos “aceitos” por uma classe de críticos que se acha bem entendida. Há diversas duplas caipiras importantes que seguem fazendo shows e que poderiam fazer parte do evento, além de jovens que seguem com a tradição.

Creio que a pouca presença do sertanejo “de verdade” não seja por questão de preconceito, já que haverá apresentações de funk, música paraense e outras coisas que também sofrem discriminação, mas talvez por alguma falta de conhecimento.

Problema mesmo, grande, eu considero a ausência de qualquer homenagem no ano em que a morte do Tião Carreiro, o maior violeiro de todos os tempos e uma dos maiores personagens da história da música sertaneja, completa 20 anos.

Quando você lê que haverá um tributo a um Chorão, muito menos importante e muito menos significativo, é natural que surja algum sentimento de inconformismo, mas no fim das contas, quem perde é o evento (sim, eu sei que outros artistas que faleceram esse ano serão homenageados).

Concordamos: a música sertaneja tradicional, que tem grande parte de sua história construída nos anos 1950/60 na capital paulista, está deixada de lado na programação.

Universitário:

Outro ponto que muitos tem reclamado é a ausência de artistas do atual sertanejo, ou do “universitário”, pra deixar as coisas mais simples.

“Na comemoração de vitória do novo prefeito, tocou “Camaro Amarelo”, tocou o tchêrerê, mas na hora de escolherem o que dar ao povo, esse pessoal é excluído”.

O argumento acima, compartilhado diversas vezes na última semana, seria legítimo, caso a organização tivesse ignorado a nova geração. Pra fazer justiça, houve sim um convite ao Michel Teló, que de acordo com o escritório dele, não fechou sua participação no evento por conta de data e logística.

No blog da Virada, mantido pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches, há uma entrevista com Alex Antunes, um dos curadores, que fala a certa altura do convite ao Teló:

PAS: Você parece dar a entender – e eu concordo plenamente contigo – que Michel Teló deveria estar na Virada. Se é isso mesmo, por que ele deveria? E por que não está?

AA: O que me espanta (na verdade me diverte) é que o Michel Teló cause tanta repulsa, sendo um músico com raízes populares legítimas. Não acho “absolutamente necessário” ele estar na Virada. Ele foi cogitado porque soubemos que poderia vir por um cachê bastante amistoso, o que acabou não se confirmando. Seria mais um símbolo. Mas um palco funk já é símbolo mais do que suficiente (risos). Acho que ele esbarrou contra essa muralha de má vontade que se forma de vez em quando, seja contra o Seu Jorge, seja contra a Kelly Key ou a própria Gaby, qualquer um cujo sucesso seja construído por fora dos lobbies usuais, “compreensíveis” e portanto aceitáveis.

Eu defendo que a nova geração não participe mesmo, por vontade própria. O motivo está na resposta dada acima: a “muralha de má vontade”. Por mais que a curadoria aparentemente esteja bem interessada em acabar com o “nojinho” que a “elite intelectual” tem de artistas e estilos que não fazem parte da panela, o ambiente é hostil.

Tocar no evento cultural da cidade que tem um dos jornalismos culturais mais preconceituosos do país? Aguentar um monte de mala apontando o dedo pra você e dizendo que o que você faz não é cultura? Pra ler uma série de bobagens a seu respeito no jornal do dia seguinte? E ainda dar um desconto no cachê?

De bobo, só mesmo a cara de coitado, como cantariam Gino e Geno (que poderiam estar na programação, diga-se de passagem).